Quadriheiros
Festividade junina é sinônimo de dedicação, saudade e amor para participantes do movimento
Mais uma vez, as quadrilhas de São João não terão a oportunidade de dançar nos festivais. A parada, causada pela pandemia do novo coronavírus, é um momento que faz falta para quem “vive” de fogueira, balão no céu e sola no chão
A pré-produção começa seis meses antes de junho chegar, onde iniciam-se os preparativos para as noites de São João em quadra. Ensaios, montagem das duplas, confecção dos figurinos e todos os detalhes importantes são planejados com antecedência para que estejam impecáveis no dia da estreia das competições.
Para quem tem como experiência de vida essas emoções, passar dois anos consecutivos sem contemplar esses encantamentos, é um desafio. Tácio Monteiro, fundador e atual presidente da Quadrilha Junina Babaçu, ao mesmo tempo que entende o motivo causador do impedimento dos festivais, encontra conforto em suas recordações de uma vida dedicada ao período de festas.
Sobre o momento atípico, ele rememora com saudades. “Eu sinto um vazio enorme, pois faço a Junina Babaçu com muito amor e a tenho como uma válvula de escape para expressar a minha criatividade, ousadia e realização artística”, declara, por não poder comemorar essa temporada da forma tradicional que faz desde 1989.
Conhecida, dentro e fora do movimento, somente como Babaçu, a quadrilha tem o título de pentacampeã no Arraiá do Ceará. Uma conquista que representa a dedicação de quem organiza, dança e acompanha. “É o resultado de muito trabalho de uma equipe de profissionais que fazem a cultura junina com pesquisa e desenvolvem seus projetos com o intuito de contribuir com o crescimento e a difusão da manifestação da quadrilha”, justifica o presidente.
“Pela fé em Deus e amor ao SJ [São João]”, são o que norteiam e dão esperanças a Monteiro para haver um regresso às quadras, às competições e à tradição por inteiro no ano de 2022.
Registros dos espetáculos realizados pela Babaçu (foto: arquivo pessoal)
Primeiros passos
Existem também aqueles que se encontraram no movimento junino, de forma mais atuante, há pouco tempo. Milena Guedes, estudante de engenharia ambiental decidiu que seria o momento para externar toda sua admiração pela dança e pelo São João, em 2018, quando virou brincante da Quadrilha Cangaço Nordestino.
O interesse em participar nasceu muito cedo, quando acompanhava os festivais com a família, ainda na infância. A maquiagem mais chamativa, os vestidos armados e o movimento da dança chamaram sua atenção. Só em 2014 ela acreditou ser o momento certo para entrar, mas seus pais não permitiram. Assim, ela esperou completar 18 anos e decidiu que estava pronta para ingressar em algum grupo. Declaradamente, essa foi uma escolha certeira.
“São João é festa e alegria, junto com muito movimento. Porém, entender a cultura que está inserida ali foi um dos principais motivos que me levou a ser brincante. Depois, o que mais me fez gostar disso tudo foram as competições e fazer parte da construção de um espetáculo", afirma a estudante.
Por mais que tenha participado somente por dois anos, ela tem certeza que, assim que possível, dará continuidade a essa tradição dentro de quadra. “Começaria uma nova etapa, fui convidada para ser a noiva em 2020. Mas fomos todos atrapalhados. Quando retornar, quero conseguir levar títulos para minha casa”, pontua.
Milena Guedes em quadra nos anos de 2018 e 2019
(Foto: arquivo pessoal)
Bem próximo, ainda que distante
Para quem deixou as quadras há mais tempo, a nostalgia é ainda mais impactante. O período da carreira profissional e os novos rumos da vida pessoal fizeram com que Victor Keven escolhesse dar uma pausa na sua atividade preferida: ser quadrilheiro.
“Era preciso muito tempo dedicado aos ensaios, às provas de roupa e viagens para competir. Minha vida estava caminhando com outras prioridades, que precisam, até hoje, de uma maior atenção minha”, informa. Em sua experiência, são três anos, contando com 2020 e 2021, que passou a acompanhar de longe o movimento.
O maquiador herdou da irmã mais velha e da madrinha a paixão pelas festividades de junho e isso o fez seguir os mesmos passos. Começou em uma equipe de pequeno porte e, em 2011, integrou o grupo da Junina Babaçu. “Era o meu sonho participar de uma quadrilha federada. Só consegui quando comecei a trabalhar, porque os custos são bem elevados”, explica, sobre os gastos de roupa e viagens.
Antes de parar de dançar, ele conseguiu realizar outro desejo e uniu o mundo do São João e o seu trabalho. “Foi muito importante maquiar a rainha da quadrilha, Adriana Dias. Foi marcante demais, representou muito. Comecei minha carreira maquiando as meninas que eram do grupo”, relata. Agora, sua maior vontade é que chegue ao fim a pandemia e ele possa, mesmo que da arquibancada, acompanhar a Babaçu.
Sem previsão de retorno às festividades de grande porte, os quadrilheiros, como Victor, aguardam ansiosamente para atuar nas diversas possibilidades que o movimento junino proporciona. Para eles, fica a fé e desejo de que tudo possa acontecer de forma segura e divertida nas quadras.
Puxe o fole, sanfoneiro!
Mesmo com mais um ano sem festejos, a animação de comemorar a temporada do São João pode ser realizada dentro de casa. Para que isso seja possível, abaixo está disponível uma playlist com as melhores música que remetem as quadrilhas. Aproveite para pular fogueira de uma forma diferente e segura. Divirta-se!
Conheça a história dos Santos juninos
Foto: reprodução internet
Viva Santo Antônio! Viva São João! Viva São Pedro! É o que mais ouvimos durante as comemorações juninas. Mas você sabe a história de cada um deles? Não! Pois é só apertar aqui para conhecer!
Aprenda a fazer as comidas típicas das
festividades juninas
Por Stefane Castro